quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Uma noite eu cheguei em casa do curso de espanhol e vi imagens de um incêndio na tv. Ainda perto da porta, meus pais me disseram que um avião da TAM havia saído da pista e batido em um prédio.
Ali eu estava, ali eu fiquei, até que minha mãe me mandou entrar em casa de verdade.
Não gosto das coberturas da imprensa. Não gosto do sensacionalismo e das perguntas insistentes sobre o que não pode ser respondido agora. Como explicar que talvez não haja um culpado para quem ainda está sofrendo uma perda ( ou várias).
Tenho a impressão de estar vendo um filme sobre um desastre aéreo. Lembro de um filme muito antigo em que um avião caia em um lago congelado e poucas pessoas conseguiam ser salvas. Todos os filmes do gênero começam contando a vida de passageiros que depois vão deixar de existir. É assim que eu vejo as coisas acontecendo.
Vejo a tripulação em mais um dia de trabalho, conversando sobre o dia-a-dia enquanto atende os passageiros. Um bebê no colo da mãe. Irmãos brigando como sempre fazem os irmãos. Uma família inteira voltando de um passeio de férias. Um grupo de amigas tirando foto do início da viagem. Alguém chegando correndo para não perder o vôo.
Vejo vidas que não existem mais. Aquelas pessoas existiam e, de uma hora para outra, não existem mais. Elas estavam alegres ou tristes, renovadas depois das férias ou preocupadas com trabalho, apaixonadas ou decepcionadas. Todas tinham um destino. Elas tinham sonhos, futuro e família. Tinham também malas, celulares e brinquedos.
E para quem fica, como superar esse trauma? Como sobreviver à morte de um filho? Uma mãe perdeu não só um, mas dois filhos e caiu no total desespero para todo o país ver. Outra perdou ainda a própria mãe. Nesse caso, para quem recorrer e pedir colo?
Quem ficou não tem como velar os entes queridos. Elas vão enterrar um caixão e poderão visitar um lápide nos dia dos finados. Como acreditar na morte sem ver a pessoa falecida? Vai ficar sempre uma sensação de que a qualquer momento aquela pessoa vai chegar da rua normalmente. Faz parte do luto derramar lágrimas sobre um rosto imóvel. Parece mórbido, mas é experiência própria.
Além da dor da perda, há ainda a dor por tudo o que se passou naquele avião. Não apenas os pilotos viram o acidente se aproximando. Todos sentiram o fim. Quando um aeronave aterrisa, tudo fica em pausa. Toda atenção é voltada para o pouso, para a pista que se aproxima, para a força dos freios. Aqueles olhos viram uma pista passar rápido demais. Quem estava naquele avião percebeu que ele não ia parar e sentiu os solavancos quando os pneus passaram pela grama.
Dor pela dúvida do que aconteceu. Sinceramente espero que o choque tenha sido realmente forte. Quem não faleceu na hora estava inconsciente no momento da explosão. É nisso o que eu quero acreditar. E não quero pensar na leitura do conteúdo da caixa-preta. Não quero lembrar das últimas palavras dos pilotos, muito menos da menção aos gritos femininos descritos pelos técnicos.
Sem sombra de dúvidas, a dor maior é dos familiares e amigos, mas não é só deles. Todos nós sofremos um pouco dessa dor. Até o presidente do Brasil afirmou ter sentido essa dor. Disse também que vai se responsabilizar pela apuração dos acidente.
Bem, outra dor. Ele vai se responsabilizar é? Tá. Quando eu posso começar a vaiar?

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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Uma noite eu cheguei em casa do curso de espanhol e vi imagens de um incêndio na tv. Ainda perto da porta, meus pais me disseram que um avião da TAM havia saído da pista e batido em um prédio.
Ali eu estava, ali eu fiquei, até que minha mãe me mandou entrar em casa de verdade.
Não gosto das coberturas da imprensa. Não gosto do sensacionalismo e das perguntas insistentes sobre o que não pode ser respondido agora. Como explicar que talvez não haja um culpado para quem ainda está sofrendo uma perda ( ou várias).
Tenho a impressão de estar vendo um filme sobre um desastre aéreo. Lembro de um filme muito antigo em que um avião caia em um lago congelado e poucas pessoas conseguiam ser salvas. Todos os filmes do gênero começam contando a vida de passageiros que depois vão deixar de existir. É assim que eu vejo as coisas acontecendo.
Vejo a tripulação em mais um dia de trabalho, conversando sobre o dia-a-dia enquanto atende os passageiros. Um bebê no colo da mãe. Irmãos brigando como sempre fazem os irmãos. Uma família inteira voltando de um passeio de férias. Um grupo de amigas tirando foto do início da viagem. Alguém chegando correndo para não perder o vôo.
Vejo vidas que não existem mais. Aquelas pessoas existiam e, de uma hora para outra, não existem mais. Elas estavam alegres ou tristes, renovadas depois das férias ou preocupadas com trabalho, apaixonadas ou decepcionadas. Todas tinham um destino. Elas tinham sonhos, futuro e família. Tinham também malas, celulares e brinquedos.
E para quem fica, como superar esse trauma? Como sobreviver à morte de um filho? Uma mãe perdeu não só um, mas dois filhos e caiu no total desespero para todo o país ver. Outra perdou ainda a própria mãe. Nesse caso, para quem recorrer e pedir colo?
Quem ficou não tem como velar os entes queridos. Elas vão enterrar um caixão e poderão visitar um lápide nos dia dos finados. Como acreditar na morte sem ver a pessoa falecida? Vai ficar sempre uma sensação de que a qualquer momento aquela pessoa vai chegar da rua normalmente. Faz parte do luto derramar lágrimas sobre um rosto imóvel. Parece mórbido, mas é experiência própria.
Além da dor da perda, há ainda a dor por tudo o que se passou naquele avião. Não apenas os pilotos viram o acidente se aproximando. Todos sentiram o fim. Quando um aeronave aterrisa, tudo fica em pausa. Toda atenção é voltada para o pouso, para a pista que se aproxima, para a força dos freios. Aqueles olhos viram uma pista passar rápido demais. Quem estava naquele avião percebeu que ele não ia parar e sentiu os solavancos quando os pneus passaram pela grama.
Dor pela dúvida do que aconteceu. Sinceramente espero que o choque tenha sido realmente forte. Quem não faleceu na hora estava inconsciente no momento da explosão. É nisso o que eu quero acreditar. E não quero pensar na leitura do conteúdo da caixa-preta. Não quero lembrar das últimas palavras dos pilotos, muito menos da menção aos gritos femininos descritos pelos técnicos.
Sem sombra de dúvidas, a dor maior é dos familiares e amigos, mas não é só deles. Todos nós sofremos um pouco dessa dor. Até o presidente do Brasil afirmou ter sentido essa dor. Disse também que vai se responsabilizar pela apuração dos acidente.
Bem, outra dor. Ele vai se responsabilizar é? Tá. Quando eu posso começar a vaiar?

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