Para começar, vou dizer que tenho 32 anos. Hoje, exatamente, eu tenho 32 anos. E quem eu sou aos 32 anos?
Sou mais recatada, mais tímida e até mais solitária. Meu círculo de amigos talvez continue o mesmo, mas são limitadas as pessoas com quem realmente convivo no dia-a-dia. Não é que eu não goste das pessoas, mas gosto mais ainda de ficar quieta na minha própria vida.
Definitivamente, aprendi que sou de fases. Tive a fase de sorvete de morango, do pastel, do chuchu. No computador, joguei SinCity, AngryBirds e MegaCity. Tive o período de livros de suspense, de Agatha Christie, de romances, de Martha Medeiros, de história da arte. Na verdade, sempre estou na fase Agatha Christie, basta encontrar um novo livro dela.
O que nunca muda é a vontade de viajar sempre. Confesso, a vontade é de fugir, de ser a pessoa que sou quando estou viajando. Fazer compras em NY, tomar sorvete em frente a Fontana de Trevi, sorrir para cada janela florida de Paris, sentir frio em Balneário Camboriu, entrar no mar de João Pessoa. Poderia escrever sobre minhas viagens para sempre.
Sou estudante depois de tanto tempo, mas agora aprendendo a ser design de interiores. Por mais que seja difícil usar escalímetro, compassos e réguas, é uma atividade que me faz desligar do mundo. Na verdade, cada desenho exige esse desligamento para voltar todas as minhas atenções para cada traço.
Não sou tão preto-no-branco como antigamente. Sei que nem sempre podemos sair bem arrumadas, com o cabelo escovado e o rosto maquiado. Sei que somos todos fracos e fazemos o que dá para fazer. Decidir sobre a vida dos outros é fácil, mas tomar as próprias decisões é muito difícil. Nunca fui tão pessimista, principalmente sobre mim mesma.
Continuo gostando de conhecer novos lugares, novos restaurantes, novas cidades. Mas sou caseira. Extremamente caseira. Gosto de cuidar das flores do meu jardim e fico animadíssima quando encontro algo fofo para casa. Se tiver algo a ver com Paris, como meu porta-chaves, aí é paixão na certa. Estou feliz pelos quadros românticos que recentemente coloquei no hall de entrada e da nova disposição do quarto. Mais do que isso, estou orgulhosa pelo espelho que era da minha avó e agora está comigo.
E por falar nisso, aos 32, eu só tenho uma vozinha. E sinto falta da outra, por mais que ela não tivesse mais conosco há um tempo. Na verdade, sinto falta de tudo que não vivi com ela. Quando eu alcancei uma idade para dar valor a minha avó, ela já não estava mais realmente aqui. Mas ainda tenho uma avó para fazer bolo para mim e me chamar pelo diminutivo do meu nome.
Se o assunto é avó, este último ano foi um esforço para dar um neto aos meus pais. Não que eles tenham cobrado diretamente. Não cobraram, mas estão ansiosos por isso. Eu estou ansiosa por isso. Então, são consultas e exames, remédios e injeções, esperanças e decepções, medo e lágrimas. É o assunto do momento para mim, 24 horas por dia. É a motivação de promessas, orações, novenas e também do meu pedido de aniversário. Vou apagar as velinhas de olhos fechados, pedindo para que a implantação que deve ocorrer no dia do meu aniversário seja um sucesso. Amém.