domingo, 2 de outubro de 2011

Historinha

Pode não parecer, mas eu tenho uma relação conturbada com a comida. Não por não gostar de comer, como acontecia com meu irmão quando pequeno. Meu problema é gostar demais dela. Desde cedo eu associei comida a prazer. Não é à toa que eu pedia uma segunda mamadeira para o vovô (e o pior é que ele dava!!!!).

Enquanto eu morava com meus pais, minha mãe ainda conseguiu controlar a situação. Quando passei a morar sozinha, as coisas saíram do controle: sem hora para as refeições, muito tempo sem me alimentar, comer só coisas saborosas ao invés de nutritivas, trocas imperfeitas. Para desespero da nutricionista, eu sempre preferi ficar sem comer a me dar o trabalho de comer algo que não agradasse o meu paladar ou mesmo que desse um pouquinho de trabalho. Mesmo aos trancos e barrancos, eu era a única envolvida e me resolvida sozinha.

Mas no meio do caminho havia uma pedra, ou melhor, um bebê e dentro de mim. Já não consigo ficar sem comer com freqüência ou sito enjôos, dor de estômago ou simplesmente uma sensação de que preciso comer. Também não posso escolher o que me dá vontade de comer, como acontecia antes. Frituras ou qualquer coisa mais gordurosa não agradam meu organismo. Biscoitos, ou são salgados demais ou doces demais. Até o santo brigadeiro virou vilão e me causou o maior enjôo até agora. Resta, então, comer uma frutinha, iogurte, pão integral ou tomar um suco.

Tudo isso só para contar que esta madrugada passei mal a ponto de vomitar pela primeira vez durante a gravidez. Explico o contexto: eu tinha chegado do show do Roberto Carlos e só queria ir para cama. Não havia nada pronto em casa e eu não queria esperar o tempo de assar alguma coisa. Na verdade, não havia nada de saboroso pronto, seguindo meu antigo costume. Então, tomei um copo grande suco e dei por encerrada a conversa. Mal sabia eu que a conversa estava só começando.

Nós temos o costume de atribuir tudo o que sinto nesses últimos tempos ao bebê. Se eu estou com fome, digo: “O bebê está com fome”. Se o João quer saber se eu vou dormir, ele pergunta: “O bebê já está com sono?” Seguindo esse raciocínio, eu consegui imaginar o bebê dizendo: “Estou com fome. Estou com fome”. Eu fingi não ouvir. Ele ficou irritado: “Estou cansado de ficar sentado tanto tempo, estou com fome e você não me escuta. Veja só o que eu vou fazer”. Então, ele usou todo o poder dos seus 6 centímetros para causar um rebuliço aqui dentro. Eu acordei já passando mal, corri para o banheiro e pus para fora tudo o que eu nem tinha no estômago. Resumindo: o bebê fez sua primeira pirraça. E o pior é que deu certo. Acabei me rendendo a uma insosa torrada de pão integral com requeijão light. O bebê sorriu e me disse: “Muito bem. Nos vemos daqui a duas horas”.

Essa versão dos fatos é totalmente absurda, mas mãe tem essas manias mesmo. Sem falar que afasta um pouco a minha responsabilidade, que é a única causa disso tudo. A verdade é que tenho que me conformar com a mudança: comida não é mais sinônimo de prazer, mas sim “um aporte energético para o bebê”.

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domingo, 2 de outubro de 2011

Historinha

Pode não parecer, mas eu tenho uma relação conturbada com a comida. Não por não gostar de comer, como acontecia com meu irmão quando pequeno. Meu problema é gostar demais dela. Desde cedo eu associei comida a prazer. Não é à toa que eu pedia uma segunda mamadeira para o vovô (e o pior é que ele dava!!!!).

Enquanto eu morava com meus pais, minha mãe ainda conseguiu controlar a situação. Quando passei a morar sozinha, as coisas saíram do controle: sem hora para as refeições, muito tempo sem me alimentar, comer só coisas saborosas ao invés de nutritivas, trocas imperfeitas. Para desespero da nutricionista, eu sempre preferi ficar sem comer a me dar o trabalho de comer algo que não agradasse o meu paladar ou mesmo que desse um pouquinho de trabalho. Mesmo aos trancos e barrancos, eu era a única envolvida e me resolvida sozinha.

Mas no meio do caminho havia uma pedra, ou melhor, um bebê e dentro de mim. Já não consigo ficar sem comer com freqüência ou sito enjôos, dor de estômago ou simplesmente uma sensação de que preciso comer. Também não posso escolher o que me dá vontade de comer, como acontecia antes. Frituras ou qualquer coisa mais gordurosa não agradam meu organismo. Biscoitos, ou são salgados demais ou doces demais. Até o santo brigadeiro virou vilão e me causou o maior enjôo até agora. Resta, então, comer uma frutinha, iogurte, pão integral ou tomar um suco.

Tudo isso só para contar que esta madrugada passei mal a ponto de vomitar pela primeira vez durante a gravidez. Explico o contexto: eu tinha chegado do show do Roberto Carlos e só queria ir para cama. Não havia nada pronto em casa e eu não queria esperar o tempo de assar alguma coisa. Na verdade, não havia nada de saboroso pronto, seguindo meu antigo costume. Então, tomei um copo grande suco e dei por encerrada a conversa. Mal sabia eu que a conversa estava só começando.

Nós temos o costume de atribuir tudo o que sinto nesses últimos tempos ao bebê. Se eu estou com fome, digo: “O bebê está com fome”. Se o João quer saber se eu vou dormir, ele pergunta: “O bebê já está com sono?” Seguindo esse raciocínio, eu consegui imaginar o bebê dizendo: “Estou com fome. Estou com fome”. Eu fingi não ouvir. Ele ficou irritado: “Estou cansado de ficar sentado tanto tempo, estou com fome e você não me escuta. Veja só o que eu vou fazer”. Então, ele usou todo o poder dos seus 6 centímetros para causar um rebuliço aqui dentro. Eu acordei já passando mal, corri para o banheiro e pus para fora tudo o que eu nem tinha no estômago. Resumindo: o bebê fez sua primeira pirraça. E o pior é que deu certo. Acabei me rendendo a uma insosa torrada de pão integral com requeijão light. O bebê sorriu e me disse: “Muito bem. Nos vemos daqui a duas horas”.

Essa versão dos fatos é totalmente absurda, mas mãe tem essas manias mesmo. Sem falar que afasta um pouco a minha responsabilidade, que é a única causa disso tudo. A verdade é que tenho que me conformar com a mudança: comida não é mais sinônimo de prazer, mas sim “um aporte energético para o bebê”.

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