terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Retorno

Como eu já disse, o Natal veio e o Natal foi. Eu também fui de viagem e já voltei ... infelizmente.
Um dia antes da data marcada para meu retorno eu já acordei de mau humor. Estava nítida para mim a causa da minha irritação. Durante todo esse dia eu me senti como a Meryl Streep naquela cena do filme "Pontes de Madison" em que ela segura a maçaneta do carro, em dúvida sobre qual decisão tomar, mas ciente de que ela seria decisiva em sua vida. Tudo bem que a decisão do filme era bem mais difícil, decisiva e dramática, mas era assim que eu me sentia. Era mais pelo simbolismo que seria desistir de voltar para casa, ainda que apenas por uma semana, e me entregar ao impulso de ficar mais tempo onde eu estava feliz ou até ir além e fugir para praia. Fugir, era isso o que eu queria, é com isso que eu fantasio e é isso o que eu faço cada vez que viajo, mesmo que seja para uma cidade bem próxima a minha.
Bem, eu permaneci no carro da minha vida e voltei para casa na data previamente marcada. Cheguei bem mais tarde do que havia previsto porque meu voo foi cancelado. Todo mundo querendo resolver tudo o mais rápido possível e eu só pensando que aquilo poderia ser um aviso para eu seguir com o plano B.
Nada disso, mantive-me no plano A e estou em casa novamente. Tudo novamente igual. Acordei e fiquei na cama mais do que deveria. Acordei e forcei para voltar a dormir. Acordei, mas fingi que ainda estava dormindo e muito cansada. Quando finalmente as demandas do dia-a-dia me colocaram para fora da cama, novamente fui tomada pela irritação e mau-humor (tem hífen ou não tem?). O que mais eu preciso para perceber que tem algo realmente errado?
E aí é quintal sujo para limpar, café da manhã que eu não tomei e se reflete no meu estômago roncando, cachorro latindo, pedreiros trançando deu um lado para outro, sujando a casa e deixando a porta bater inúmeras vezes, vassoura para comprar, almoço para providenciar. Esta casa está grande demais para mim, as trivialidades do dia-a-dia estão importantes demais para mim.
Juro, qualquer dias desses eu vou puxar essa maçaneta e sair pelo mundo. Enquanto esse dia não chega, eu sigo comendo chocolate amargo para conter a irritação e fantasiando quebrar cada vidro da porta que não para de bater.

Foto: myllelocatel.blogspot.com

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Retorno

Como eu já disse, o Natal veio e o Natal foi. Eu também fui de viagem e já voltei ... infelizmente.
Um dia antes da data marcada para meu retorno eu já acordei de mau humor. Estava nítida para mim a causa da minha irritação. Durante todo esse dia eu me senti como a Meryl Streep naquela cena do filme "Pontes de Madison" em que ela segura a maçaneta do carro, em dúvida sobre qual decisão tomar, mas ciente de que ela seria decisiva em sua vida. Tudo bem que a decisão do filme era bem mais difícil, decisiva e dramática, mas era assim que eu me sentia. Era mais pelo simbolismo que seria desistir de voltar para casa, ainda que apenas por uma semana, e me entregar ao impulso de ficar mais tempo onde eu estava feliz ou até ir além e fugir para praia. Fugir, era isso o que eu queria, é com isso que eu fantasio e é isso o que eu faço cada vez que viajo, mesmo que seja para uma cidade bem próxima a minha.
Bem, eu permaneci no carro da minha vida e voltei para casa na data previamente marcada. Cheguei bem mais tarde do que havia previsto porque meu voo foi cancelado. Todo mundo querendo resolver tudo o mais rápido possível e eu só pensando que aquilo poderia ser um aviso para eu seguir com o plano B.
Nada disso, mantive-me no plano A e estou em casa novamente. Tudo novamente igual. Acordei e fiquei na cama mais do que deveria. Acordei e forcei para voltar a dormir. Acordei, mas fingi que ainda estava dormindo e muito cansada. Quando finalmente as demandas do dia-a-dia me colocaram para fora da cama, novamente fui tomada pela irritação e mau-humor (tem hífen ou não tem?). O que mais eu preciso para perceber que tem algo realmente errado?
E aí é quintal sujo para limpar, café da manhã que eu não tomei e se reflete no meu estômago roncando, cachorro latindo, pedreiros trançando deu um lado para outro, sujando a casa e deixando a porta bater inúmeras vezes, vassoura para comprar, almoço para providenciar. Esta casa está grande demais para mim, as trivialidades do dia-a-dia estão importantes demais para mim.
Juro, qualquer dias desses eu vou puxar essa maçaneta e sair pelo mundo. Enquanto esse dia não chega, eu sigo comendo chocolate amargo para conter a irritação e fantasiando quebrar cada vidro da porta que não para de bater.

Foto: myllelocatel.blogspot.com

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